“Ser imperfeita” – Modulações de um cinema de experiência pessoal brasileiro

Esta mostra reúne um conjunto de filmes tão singulares quanto viscerais, revelando as particularidades de um cinema de experiência pessoal, inscrito sob um regime documental, que vem alçando voos cada vez maiores nos últimos anos. Obras que colocam em cena formas e práticas de autoinscrição por meio de imagens e sons artesanais, empregando uma primeira pessoa no feminino que pode ser por vezes acolhedora, por vezes impossível, mas que certamente resiste às tentativas de totalização. Dessas construções particulares de subjetividade pela linguagem, que também tomam de empréstimo procedimentos de campos vizinhos – das artes visuais, da literatura, do ensaio ou da performance -, resultam filmes absolutamente diferentes, fruto de posições sociais, visões de mundo e cosmologias distintas. Seja por perspectivas combativas em comunidade, que forjam estéticas antirracistas, feministas, queer, ou por viagens imersivas em um universo íntimo, o gesto de colocar essas obras lado a lado é, desde já, questionar seus pressupostos, o que leva a questionar também o próprio cinema documentário em suas convenções fantasiosas de espaço, sujeito, tempo. De etnografias domésticas em suas intrincadas relações familiares, que podem ser tanto afetuosas quanto violentas, passando por formas indiretas de representação de si, por modos de autoficção ou de performance do corpo, em viagens marcadas pela ancestralidade, ou ainda pelo dispositivo de cartas, diários, selfies e memes, este conjunto de filmes escancara diferentes elaborações de “eu” e de “nós” através da matéria fílmica, o que nos permite vislumbrar um país em constante transformação.

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