Em 1940, duas crianças do povo indígena Krahô encontram na escuridão da floresta um boi perigosamente perto da sua aldeia. Era o prenúncio de um brutal massacre, perpetrado pelos fazendeiros da região. Em 1969, os filhos dos sobreviventes são coagidos a integrar uma unidade militar, durante a Ditadura brasileira. Hoje, diante de velhas e novas ameaças, os Krahô continuam a caminhar sobre a sua terra sangrada, reinventando a cada dia infinitas formas de resistência.

O longa-metragem de João Salaviza e Renée Nader expressa, ao lado de outros títulos como Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (2018), a continuidade da relação entre os diretores e o povo Krahô - que fazem presença na tela e também em outras funções do filme, como na equipe de roteiro composta pela dupla de realizadores e por Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô e Henrique Ihjãc Krahô. O filme revive a memória do massacre vivido por eles em 1940 através de variadas perspectivas e temporalidades - das crianças, do sonho, dos mais velhos. É através delas que o filme enfrenta as reverberações das violências exercidas pelos fazendeiros na região do território Krahô, hoje demarcado e nomeado como Kraolândia. A elaboração histórica acompanha a elaboração de formas de resistência: anuncia-se a realização do Ketwajê e debate-se uma possível ida ao Acampamento Terra Livre, em Brasília. Através de um olhar sensível à história e terra Krahô, com destaque para a atenção singular aos animais, plantas e sonoridades que as compõem, A Flor do Buriti é um retrato construído a partir do que há de mais político nas sensações. (Bárbara Bello)