Por trás da linha de escudos
- Ano
- 2023
- Duração
- 88 min
- Local de produção
- PE/Brasil
- Legendas
- ENG
- Classificação
- L
- Acesso
- Gratuito
Disponível para todos os países
Sinopse
Uma equipe de cinema consegue acesso ao Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco - unidade policial treinada para lidar com a repressão de aglomerações de civis, incluindo protestos e manifestações. Desta aproximação, surge a primeira versão de Por trás da linha de escudos, lançada em 2017. Alvo de críticas, o filme é retirado de circulação pela equipe, que decide realizar uma nova edição do documentário a partir do mesmo material bruto. Além de apresentar o cotidiano e o ponto de vista dos policiais, o longa, agora, também comenta a própria feitura do documentário, seus dilemas e contradições.
Por que assistir?
Falemos de luta. Luta política, isto é, corpo-a-corpo cinematográfico - expor, explicar, colocar as palavras e os corpos em perspectiva, e não mais chapados. Filmar com profundidade (de campo, de cena). Campo e fora-de-campo. Visível e invisível. Em relevo, colocar em relevo.
(Jean-Louis Comolli, em “Como filmar o inimigo”)
Entre procedimentos descritivos - medidas e parâmetros da bandeira nacional, modos de organização da tropa de choque da polícia militar, quantidade de munição necessária para um combate, para citar apenas alguns exemplos - e reflexões sobre o processo de realização narradas em off, Marcelo Pedroso realiza um filme de rara coragem. Seu propósito inicial é investigar a possibilidade de “reconhecimento no confronto”: seria possível que, de um lado, militantes de esquerda e, de outro, policiais militares pudessem se reconhecer? O uso do pronome “vocês” pelo diretor, em suas intervenções em off, marca a um só tempo sua posição na história, nada neutra (“nós”, os militantes, tentamos falar de “vocês”, os policiais) e uma tentativa de endereçamento, de estabelecimento de relação. A questão é: que relação é possível? Como “filmar o inimigo”?
Pedroso não encontra facilmente uma resposta para essa pergunta. A primeira versão, lançada em 2017, recebeu críticas. “Ninguém se reconheceu”, anuncia o narrador-diretor. Ele decide, então, retirar o filme de circulação e criar a presente versão. Não falta posicionamento crítico: as cenas de choque entre a PM e os manifestantes chocam pela violência e pela absurda assimetria de forças, no enfrentamento entre a população sem direitos e desarmada e a tropa de choque munida de bombas de gás, tanques blindados e armas de precisão. Contudo, a crítica vem acompanhada de uma genuína tentativa de entender o lado “deles”, os que estão atrás da linha de escudos. Nas entrevistas, Pedroso pergunta se, em algum momento, os soldados conseguem entender os motivos de seus “inimigos” se manifestarem. Enxergariam as pessoas, por trás dos escudos? Validariam suas reivindicações, enquanto cumprem seu papel de soldados, braço armado do Estado que são? Há conflitos internos, dúvidas quanto às ordens que recebem?
Vale assistir o documentário para observar a habilidade de Pedroso e sua equipe em conduzir a investigação sem recair em saídas fáceis ou fórmulas prontas. A tentativa de aproximação que move a obra coloca em relevo e filma em profundidade as contradições da própria instituição militar que, ao empregar a força para produzir o medo, faz dos cidadãos, que deveriam proteger, o alvo de sua munição.
Direção
Ficha técnica
direção Marcelo Pedroso de Jesus
roteiro Marcelo Pedroso de Jesus e Ernesto de Carvalho
montagem Ernesto de Carvalho
fotografia Luís Henrique Leal
produção Lívia de Melo
som Rafael Travassos
Prêmios e Festivais
festivais
Festival de Brasília (2017); CachoeiraDoc (2017)