Cruzamento
Guto Parente, Pedro Diógenes
2007, 17 min
Há quem diga que o cerne do trabalho de um autor de cinema já esteja presente desde seu primeiro filme, ainda que de modo incipiente, ou com pouca nitidez. No caso da obra de Guto Parente, a hipótese tem fundamento. Em Cruzamento (2007), co-dirigido por Pedro Diógenes e realizado ainda nos tempos de estudante da Escola de Audiovisual, em Fortaleza, acompanhamos Benjamin na direção de seu carro, dia e noite, enquanto cruza a cidade. Pouco acontece, além da ação de dirigir: um homem se oferece para limpar os vidros, passam alguns pedestres, outros motoristas. O som é mais variado e vívido: ouvimos o rádio, buzinas, motor ligado, acelerador, ventilador portátil, limpadores de parabrisa. A estrutura é simples, como convém a um primeiro exercício de realização. A narrativa é rarefeita em prol de um investimento no ritmo, na cadência dos planos, e na sensorialidade, estimulada pela rica camada sonora. A iminência de sentido exige atenção a detalhes, aparentemente incidentais: a letra da música, a notícia no rádio, os ruídos da estação mal sintonizada, alguma ação que se passa fora do carro e que, apesar de banal, parece estranha. E há a cidade, Fortaleza, espaço de perambulação e travessia, cenário de diversos outros filmes do diretor.
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