A trajetória de Ivo Lopes Araújo no cinema é vasta e multifacetada, abrangendo seu trabalho como fotógrafo, diretor e também sua atuação significativa junto ao coletivo-produtora Alumbramento. Em seus filmes como diretor, deparamo-nos com uma atenção sensível às cidades, especialmente Fortaleza, desde um ponto de vista das derivas: as luzes, a noite, os transeuntes, as estranhezas e efemeridades — abordagem que encontramos em filmes como Sábado à Noite e Medo do Escuro. O interesse rítmico que perpassa as movimentações urbanas se desdobra em outra dimensão central de sua obra: a relação com a música. Em filmes como Fim de Semana (direção em parceria com Pedro Diógenes) e Guardo tudo nas lembranças que é pra nunca desistir, Ivo acompanha bandas em suas rotinas de apresentações e nos bastidores dos processos criativos. Entre longas viagens pelas estradas do Brasil e o cotidiano de composição, seus filmes pensam a música a partir de outra perspectiva — aquela da partilha, da lapidação paciente, do compasso do trabalho, do sensorial luminoso, da montagem e desmontagem de cada show e canção. O tema da amizade — que é também a prática da Alumbramento — ganha contornos particulares em A Amiga Americana (direção em parceria com Ricardo Pretti), onde o encontro improvável entre duas mulheres, mediado pela música, desencadeia transformações em suas vidas. O cinema de Ivo está envolto, então, por essas tessituras de acontecimentos entre a cidade, a música e a amizade. Cinema atento ao ritmo dos corpos em trânsito, às cintilâncias das películas e das câmeras digitais e às histórias que emanam das luzes de Fortaleza.