especial Jorge Bodanzky
Jorge Bodanzky é um cineasta versátil, que dirige seu olhar a temas muito variados. Da pintura à música, passando pela pauta ambiental recorrente em sua filmografia desde seu primeiro longa-metragem, o célebre “Iracema, uma transa Amazônica” (1975), até “Ruivaldo, o homem que salvou a terra” (2019), os temas são sempre tratados por um viés político, o que permite extrapolar o recorte singular de cada filme. Não raro focados em apenas uma personagem, seus filmes se ampliam rumo a reflexões mais abrangentes, que permitem elaborar um pensamento, ou um sentimento de mundo com o cinema.
O programa da semana lança dois filmes do diretor: o longa Ruivaldo, o homem que salvou a terra (Jorge Bodanzky e João Farkas, 2019) e o curta Zuza Homem de Mello (Jorge Bodanzky, 2015). Em Ruivaldo, o homem que salvou a terra, os impactos da degradação ambiental no Pantanal são apresentados através de entrevistas, imagens aéreas e fotografias de João Farkas. O grande fio-condutor é a história de Ruivaldo Nery Andrade, fazendeiro nascido na região que luta para recuperar sua terra e preservar memórias ameaçadas de um outro Pantanal. Na região do Rio Taquari e demais áreas permanentemente inundadas, a sedimentação progressiva inviabilizou não apenas o cultivo da terra, mas a própria permanência de seus habitantes, alterando drasticamente a vida local. Diante dos cenários encontrados, o documentário atribui grande responsabilidade ao avanço do agronegócio e à falta de políticas públicas eficazes.
Já Zuza Homem de Mello leva-nos ao universo da música, guiados pelo olhar apaixonado deste grande estudioso, jornalista e crítico de música no Brasil, falecido em 2020. O documentário, que a princípio se debruça sobre sua trajetória, transforma-se também em uma incursão pela história da música: dos anos 1950 em Nova Iorque – onde estudou e conviveu com nomes como Ray Brown, Thelonious Monk, Charles Mingus, Lester Young e muitos outros – até João Gilberto, Radamés Gnattali, Noel Rosa e os festivais de música brasileira nos anos 1960. Por meio de fotografias, discos e CDs, Zuza rememora seus escritos e vivências, tocando em momentos históricos como o da transição do LP para o CD. Abrindo seu acervo com tanto zelo e percorrendo as mais diversas sonoridades, Zuza revela o entrelaçamento de sua história pessoal com seu amor pela música.
(Bárbara Bello e Carla Maia)
Lançamentos:
Ruivaldo, o homem que salvou a terra (Jorge Bodanzky e João Farkas, 2019)
Zuza Homem de Mello (Jorge Bodanzky, 2015)