foco cao guimarães
De trajetória extensa, passando por entre o cinema e as artes plásticas, o trabalho de Cao Guimarães carrega uma poesia tão atenta aos acidentes e detalhes quanto às operações formais que os envolvem. Percorrer sua filmografia é passar por discussões caras à história do cinema brasileiro contemporâneo, desde seus desvios de certas tendências do documentário no início dos anos 2000 às possibilidades híbridas abertas pelo vídeo e pelo cinema pensados também através do digital e analógico, impuros, experimentais. Das intervenções silenciosas às mais acentuadas – à nível de montagem, direção e fotografia -, Cao Guimarães apresenta-nos filmes que abrem sempre a possibilidade de perguntar sobre as relações entre quem filma e é filmado, sobretudo como relações nas quais não se almeja nunca uma totalização – antes, buscam por uma poesia de descompassos, dos lampejos e dos encontros.
Filmar as cidades do interior de Minas Gerais, suas personalidades, suas moradas, encantos e contradições; filmar aqueles que vivem nos lugares de passagens – as estradas -, ou até mesmo isolados, em solidões; filmar a experiência de transição de gênero de uma pessoa, tão pessoal e singular, estendida por entre espaços e pessoas diversas na cidade, como poesia que se espalha e traduz no mundo. O cinema de Cao Guimarães é pleno de olhares aos mundos que surgem com as pessoas, na delicadeza de gestos, de seus rituais, de suas palavras. Entre essa semana e a próxima lançaremos na Embaúba Play um Foco contando com onze longa-metragens assinados pelo diretor, desde O Fim do Sem Fim (Cao Guimarães, Lucas Bambozzi e Beto Magalhães, 2001) até Espera (Cao Guimarães, 2018).
Na primeira semana, lançaremos O Fim do Sem Fim; Rua de Mão Dupla (Cao Guimarães, 2002); A Alma do Osso (Cao Guimarães, 2004), O Andarilho (Cao Guimarães, 2006) e Acidente (Cao Guimarães e Pablo Lobato, 2006). As moradas entram em evidência – assim como o deslocamento de seus sentidos -, revelando-se através dos filmes como raízes móveis. Vemos essa volatilidade sendo acionada pelo dispositivo de inversão em Rua de Mão Dupla; pela casa de um ermitão em A Alma do Osso; pelas casas levadas nas costas por Gaúcho, Nercino e Paulão pela BR-251 em Andarilho, ou pelas casas interioranas de Acidente que tecem juntas uma paisagem.
Já na segunda semana, estarão disponíveis os filmes Elvira Lorelay Alma de Dragón (Cao Guimarães, 2012); Ex-isto (Cao Guimarães, 2010); Espera (Cao Guimarães, 2018), O homem das multidões (Cao Guimarães e Marcelo Gomes, 2013) e Otto (Cao Guimarães, 2012).