foco Ponta de Anzol Filmes
Em 2025, a Ponta de Anzol Filmes completa seu primeiro setênio. Em sete anos de existência, o quarteto de sócios – Bruno Greco, Higor Gomes, Jacson Dias e Maick Hannder – trabalhou intensamente. Realizaram filmes próprios – atualmente são seis curtas metragens finalizados e quatro projetos em desenvolvimento, incluindo os primeiros longas – , compuseram equipes em projetos de produtoras parceiras, viajaram por laboratórios internacionais, lecionaram cursos de formação. Todo o trabalho tem valido a pena, haja vista a quantidade de prêmios recebidos por seus filmes em circulação em festivais nacionais e internacionais. Entre Belo Horizonte, Betim e Sabará, os realizadores da Ponta de Anzol provam a importância da descentralização da cultura e a força do cinema mineiro.
Reunimos neste programa a quase totalidade da produção da Ponta de Anzol Filmes até este início de 2025 – dos seis curtas já realizados, apresentamos cinco. A exceção é o recém-lançado Mãe do Ouro ,(2024) escrito e dirigido por Maick Hannder, que ainda está em circuito de lançamento nos festivais e teve estreia no Festival de Brasília, levando dois troféus Candango: o de melhor atriz para Carlandréia Ribeiro, que vive a protagonista Tiana, e o de melhor fotografia para Fernanda de Sena. Os cinco curtas que compõem o programa, cotejados lado a lado, permitem compreender algumas questões caras ao coletivo.
Em Ingrid (2016), realizado antes mesmo da criação da produtora, como trabalho de faculdade do diretor Maick Hannder, conhecemos a história da personagem título, que grava um depoimento sobre seu processo de transição de gênero. Vemos detalhes de seu corpo, em fotografias fixas em primeiríssimo plano, recurso que sugere a um só tempo fragmentação e intimidade – tudo se passa como se, no processo de narrar a si mesma, Ingrid fosse, aos poucos, se compondo, ou recompondo, para poder finalmente surgir inteira, afirmar seu lugar no mundo.
Guardadas as devidas distâncias, Impermeável pavio curto (2018) tem alguns pontos em comum com Ingrid – em termos de contexto de produção, também é resultado de um trabalho de conclusão de curso, dessa vez do diretor Higor Gomes, que realiza o filme “entre amigos, em família, em casa, de quintal, na rua, pela quebrada”, como lemos em um dos textos de apresentação do filme “resultado de uma vida somada a outras, de origem e percursos parecidos”. Jaqueline, a protagonista, é uma personagem em movimento – a bicicleta é sua companhia constante – que, como Ingrid, parece buscar seu lugar no mundo. Dessa vez, contudo, a transição é da infância para a vida adulta e o registro não é mais documental, mas ficcional, numa construção narrativa que evita a transparência e apresenta diálogos bem construídos e encenados, tomados em planos fixos, quase sempre tão abertos como o futuro da jovem.
O terceiro filme, Looping, é o primeiro a trazer em seus créditos, ainda sem logomarca, o nome da produtora: “Ponta de Anzol apresenta”. Maick Hannder volta a filmar o desejo, dessa vez, não mais o desejo de assumir quem se é, como vemos em Ingrid, mas o desejo de relação, de estar com outro. O olhar mobiliza todo o filme – enquanto ouvimos a história de uma paixão, olhamos o objeto amado. O recurso da fotografia fixa retorna aqui, assim como o da narração em off, mas dessa vez há um grau maior de elaboração criativa, num texto bastante sensível e poético que detalha sentimentos, descreve sensações e gestos, afirma a urgência do amor sem estridência. As fotografias já não são tão fixas – de uma foto a outra, uma certa luz varia, um leve reenquadramento provoca movimentos em looping, como que a sublinhar menos a sequência de um frame a outro e mais o espaço entre um frame e outro, o espaço da pausa que, por sua vez, remete à temporalidade própria ao enamoramento, estado em que tudo parece entrar em suspensão.
Em Forrando a vastidão, a produtora já tem sua logomarca apresentada logo nos créditos iniciais. O diretor Higor Gomes realiza esse filme durante a pandemia. Acompanhamos a rotina de uma mulher de meia idade – ela se exercita, muda móveis de lugar, escreve em seu caderno, medita, encontra seus filhos (um deles, o próprio diretor, em participação especial). Novamente, Gomes se preocupa menos em apresentar uma história linear, com encadeamento de ações, e mais a construção de uma personagem, a partir de um certo modo de estar no mundo e com ele se relacionar. Mais pathos, menos télos, poderíamos pensar. Diferente da jovem Jaqueline de Impermeável pavio curto, a protagonista de Forrando a vastidão, já mulher madura, observa menos que reage, tem uma postura centrada e paciente. O movimento aqui é menos de explosão e transformação e mais de sustentação e equilíbrio, como no plano em que ela executa, com precisão coreográfica, a sequência de golpes no ar com sua espada.
Também dirigido por Higor Gomes, Ramal (2023) figura a beleza de uma tarde entre amigos: motocas vêm e vão sobre uma ponte em Sabará (MG), assumindo toda a vivacidade da moto enquanto instrumento lúdico. O vento contra o rosto, pôr-do-sol armando no céu, faíscas saltando do asfalto e o tempo produtivo em suspensão. O prazer oscila entre o motor, a galera e o risco. No curta, a prática do grau envolve seus adornos – como as luvas cintilantes -, a performance ensaiada dos gestos, a contemplação uns dos outros e as conversas descontraídas. “A melhor parte do dia”, um deles declara, enquanto o outro avalia o desempenho do grupo, “tem que tá todo mundo retinho, alinhado”. Oscilando entre coreografias individuais e coletivas, a paixão pelo grau vai formando a comunidade. Em Ramal, o trem de carga que atravessa os trilhos da cidade, com seu movimento maquínico e inerte, contrapõe-se ao movimento ritmado do fluxo das motocicletas – essas, por sua vez, máquinas vivas, acesas.
Pensados juntos, os trabalhos realizados nessa ainda breve, porém intensa, trajetória da Ponta de Anzol Filmes são elogios a formas de vida e temporalidades contra-hegemônicas – corpos pretos, vidas trans, desejos homossexuais, mulheres de luta, masculinidade afetiva são temas que desafiam a normatividade, os padrões vigentes. Somos fisgados por esses personagens, que surgem como pequenos acontecimentos face a uma realidade bastante dura, que pede por transformação, que exige afirmar a potência da arte, a urgência do amor.
Sobre os sócios da Ponta de Anzol Filmes:
Bruno Greco
Produtor e Produtor Executivo. É graduado em Cinema e Audiovisual pelo Centro Universitário UNA e pela Escola Livre de Cinema. Cursou em 2019 o Workshop Fémis de Produção Criativa, organizado pelo Projeto Paradiso em parceria com a escola La Fémis (França), e ministrado pela produtora Juliette Grandmont. Recebeu a Bolsa Paradiso para participar do MÁLAGA TALENTS 2022, durante o 25º Festival de Málaga. Integra a Rede de Talentos do Projeto Paradiso.
Produtor e Produtor Executivo dos curtas-metragens LOOPING (Maick Hannder, 2019), FORRANDO A VASTIDÃO (Higor Gomes, 2021) e RAMAL (Higor Gomes, 2023), filmes exibidos em dezenas de mostras e festivais, como FICValdivia, Olhar de Cinema, Janela Internacional de Cinema do Recife, Mostra de Tiradentes, FestcurtasBH, Curta Cinema – Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, dentre outros. Produziu também o curta-metragem MÃE DO OURO (Maick Hannder, inédito), em fase de pós-produção e com previsão de lançamento para 2024.
Trabalhou no departamento de produção executiva dos longas-metragens O ÚLTIMO EPISÓDIO (Maurílio Martins | Filmes de Plástico | inédito), O SILÊNCIO DAS OSTRAS (Marcos Pimentel | Tempero Filmes, Anavilhana | Inédito), ANA, EN PASSANT (Fernanda Salgado | Apiário, Sardinha em Lata | Inédito) e É TUDO PARENTE (Mariana Fagundes | Noctua – Ideias e Conteúdo | Inédito).
Atualmente produz, ao lado de Jacson Dias, os projetos de longa-metragem TEMPESTADE NINJA, escrito e dirigido por Higor Gomes e vencedor de 2 prêmios durante o 10th Brasil CineMundi – International Coproduction Meeting, PERTO DA MEIA-NOITE, escrito e dirigido por Maick Hannder e vencedor de 3 prêmios no 10º BrLab – Laboratório de Projetos Audiovisuais, e o documentário OUTUBRO, de Vinicius Correia.
É associado da API (Associação das Produtoras Independentes) e da ATCIMG (Associação dos Trabalhadores do Cinema Independente de Minas Gerais).
É sócio-fundador da produtora PONTA DE ANZOL FILMES. Mora em Belo Horizonte-MG.
Higor Gomes
Diretor e roteirista. É graduado em Cinema e Audiovisual pelo Centro Universitário UNA e pela Escola Livre de Cinema. Integra a Rede de Talentos do Projeto Paradiso.
Seu filme de estreia, o curta-metragem IMPERMEÁVEL PAVIO CURTO (2018), recebeu o prêmio Zózimo Bulbul no 51° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o prêmio de Melhor filme na Competitiva Minas no 20° FESTCURTASBH – Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte e o prêmio de Melhor Filme no 4° MOV – Festival Internacional de Cinema Universitário de Pernambuco, além de ter sido exibido no 8° Olhar de Cinema – Festival Internacional de Cinema de Curitiba e em mais de 30 festivais e mostras. Em 2019 foi exibido na TV por assinatura pelo Canal Brasil.
FORRANDO A VASTIDÃO (2021), seu segundo curta-metragem, teve estreia na competitiva brasileira do 23º FestCurtasBH – Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte. Foi exibido em mais de 20 festivais e mostras como 28º Festival de Cinema de Vitória, 25º Mostra de Cinema de Tiradentes, Semana Paulistana do Curta-Metragem e 3º Mostra Quilombo de Cinema Negro e Indígena. Recebeu o prêmio do júri na Mostra do Filme Livre.
RAMAL (2023), seu terceiro curta-metragem, teve sua estreia no 12º Olhar de Cinema – Curitiba IFF 2023, onde ganhou o prêmio de Melhor curta-metragem e prêmio da crítica Abraccine de Melhor Filme. O filme já foi exibido em dezenas de festivais e mostras como 30º FICValdivia e o 34º Festival Internacional de Curtas de São Paulo – Curta Kinoforum. Ganhou ainda os prêmios Prêmio dos favoritos do público, no 34º Festival Internacional de Curtas de São Paulo – Curta Kinoforum, e Melhor Direção de Fotografia, no 5º Festcimm – Festival de Cinema no Meio do Mundo.
Desenvolve o roteiro do seu primeiro longa-metragem TEMPESTADE NINJA, que ganhou em 2018 o prêmio de Melhor Pitching no Kinoforum Labs – Do Curta ao Longa, durante o 29º Curta Kinoforum – Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. Em 2019, o projeto recebeu dois prêmios no 10th Brasil CineMundi – International Coproduction Meeting, entre eles o prêmio Incubadora Paradiso 2020, programa de apoio a roteiristas desenvolvido pelo Projeto Paradiso. O projeto foi contemplado na edição de 2019 do edital BH nas Telas, na categoria Desenvolvimento de Roteiro de Longa-metragem.
Foi montador do documentário NOSSA MÃE ERA ATRIZ (2023), dirigido por André Novais Oliveira e Renato Novaes, com produção da Filmes de Plástico, que teve estreia na 26º Mostra de Cinema de Tiradentes e recebeu o prêmio de Melhor Curta pelo Júri Popular.
Em 2018 foi professor do projeto Imagens em Movimento, programa vinculado à Cinemateca Francesa, no qual ofereceu oficinas de cinema para alunos da rede pública de Sabará-MG.
É associado da APAN (Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro) e da ABRA (Associação Brasileira de Autores Roteiristas).
É sócio-fundador da produtora PONTA DE ANZOL FILMES. Mora em Sabará-MG.
Jacson Dias
Produtor e Diretor de Produção. É graduado em Cinema e Audiovisual pelo Centro Universitário UNA.
Produtor dos curtas-metragens LOOPING (Maick Hannder, 2019), FORRANDO A VASTIDÃO (Higor Gomes, 2021) e RAMAL (Higor Gomes, 2023), filmes exibidos em dezenas de mostras e festivais, como FICValdivia, Olhar de Cinema, Janela Internacional de Cinema do Recife, Mostra de Tiradentes, FestcurtasBH, Curta Cinema – Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, dentre outros. Produziu também o curta-metragem MÃE DO OURO (Maick Hannder, inédito), em fase de pós-produção e com previsão de lançamento para 2024.
Trabalhou no departamento de produção de obras seriadas, médias e longas-metragens, como SETE ANOS EM MAIO (Affonso Uchoa | Vasto Mundo, Un Puma, Camila Bahia, 2019), CANÇÃO AO LONGE (Clarissa Campolina | Anavilhana | 2023), Diretor de Produção do longa-metragem O DIA QUE TE CONHECI (André Novais Oliveira I Filmes de Plástico, 2024) AZUL CELESTE (Silvia Godinho | Dromedário Cinema e Vídeo | inédito) e PARALELO 60 – A CIÊNCIA BRASILEIRA NOS EXTREMOS DO PLANETA (Leandro Lopes, Ian Lara | Qu4rto Studio | inédito)
Atualmente produz, ao lado de Bruno Greco, os projetos de longa-metragem TEMPESTADE NINJA, escrito e dirigido por Higor Gomes e vencedor de 2 prêmios durante o 10th Brasil CineMundi – International Coproduction Meeting, PERTO DA MEIA-NOITE, escrito e dirigido por Maick Hannder e vencedor de 3 prêmios no 10º BrLab – Laboratório de Projetos Audiovisuais, e o documentário OUTUBRO, de Vinicius Correia.
Foi Conselheiro LGBTQIAPN+ pela Sociedade Civil de Contagem-MG. Foi Coordenador Executivo do Projeto de Extensão UNA-Se Contra a LGBTfobia.
É associado da APAN (Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro), da API (Associação das Produtoras Independentes) e da ATCIMG (Associação dos Trabalhadores do Cinema Independente de Minas Gerais), e Diretor de Igualdade e Inclusão do SINDAV-MG.
É sócio-fundador da produtora PONTA DE ANZOL FILMES. Mora em Belo Horizonte-MG.
Maick Hannder
Diretor e roteirista. É graduado em Cinema e Audiovisual pelo Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte.
INGRID (2016), seu primeiro curta-metragem, foi selecionado em mais de 40 festivais nacionais e internacionais, entre eles o 44° Festival de Cinema de Gramado, 27° Curta Kinoforum – Festival Internacional de Curta-metragens de São Paulo e o 31° BFI Flare: London LGBT Film Festival. O curta foi exibido na Tv por assinatura, através de um prêmio de aquisição da SESCTV, além de ter sido exibido na TV aberta pela Rede Minas.
LOOPING (2019), seu segundo curta-metragem, recebeu duas Menções Honrosas no XII Janela Internacional de Cinema de Recife e o prêmio de Melhor Som no 8° Curta Brasília – Festival Internacional de Curta-metragem, e os prêmios de Melhor Direção e Trilha Sonora no GRIOT – III Festival de Cinema Negro Contemporâneo. O filme ainda foi exibido em vários festivais como o 29° Curta Cinema – Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, 23° Mostra de Cinema de Tiradentes e o 21° FESTCURTASBH – Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte. Em 2021, Looping foi convidado para a SESSÃO VITRINE 10 ANOS e foi exibido no circuito comercial de cinema em várias salas do Brasil.
Desenvolve seu próximo curta-metragem, MÃE DO OURO, projeto que participou do Laboratório de Curta-Metragem do 28° Curta Cinema, no Rio de Janeiro-RJ, e MetroLAb – Laboratório de Curtas do Metrô – Festival do Cinema Universitário Brasileiro, em Curitiba-PR. O projeto foi contemplado na edição 2019 do Edital BH nas Telas.
PERTO DA MEIA-NOITE, seu primeiro projeto de longa-metragem, recebeu três prêmios durante o 10º BrLab – Laboratório de Projetos Audiovisuais, o Prêmio Desenvolvimento Vitrine Filmes, o prêmio Cesnik, Quintino & Salinas Advogados, e o prêmio C/as4atro. O projeto foi, ainda, selecionado para o 12th Brasil CineMundi – International Coproduction Meeting.
É associado da APAN (Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro).
É sócio-fundador da produtora PONTA DE ANZOL FILMES. Mora em Betim-MG.