Maternidades e suas derivas
No princípio, era a mãe, não o verbo. Todos fomos gestados e paridos por uma mãe. Na maior parte dos casos, ela também nos alimentou, abrigou, acompanhou nosso desenvolvimento, ou, em casos menos constantes, alguém assumiu esse papel, quase sempre, outra mulher: a mãe adotiva, uma tia, uma vizinha, a avó, mãe de outros tantos.
A Embaúba Play, por ocasião do Dia das Mães, lança quatro filmes que, em comum, possuem o atravessamento por experiências de gestação e maternagem. A começar por Nossos espíritos seguem chegando – Nhe’ẽ kuery jogueru teri, dirigido por Kuaray Poty (Ariel Ortega), Mbya Guarani que filma sua companheira Pará Yxapy durante a gravidez, em plena pandemia de Covid-19. Ainda abordando a gravidez, temos O olmo e Gaivota (Petra Costa, 2014) e, em chave oposta, O mar também é seu (Michelle Coelho, 2022, 20´), tematizando a gravidez que não se desdobra em maternagem, posto que interrompida. Incluímos o curta no programa em defesa do direito ao aborto e da maternidade enquanto escolha consciente, não como destino imposto às mulheres.
Tudo que importa completa o conjunto de lançamentos, com seus retratos de famílias de pessoas trans, em que prevalecem o amor e o respeito incondicionais. Precisamos de imagens assim. O cinema não apenas representa o mundo, com suas mazelas, dores e traumas, ele o recria, ele imagina outros mundos possíveis, é essa sua força política. Imaginar um mundo em que mulheres possam exercer sua maternagem com apoio e segurança, por escolha própria e amparadas por suas respectivas comunidades, um mundo em que filhos e filhas possam se sentir acolhidos e respeitados por suas famílias, uma sociedade em que a maternagem não é invisibilizada mas enaltecida, fonte de aprendizado é – ou deveria ser – uma das tarefas inadiáveis do cinema.
Reunimos, junto aos lançamentos, outros seis filmes do catálogo que encaram essa tarefa. Seja no cotidiano de cuidados com um bebê (Dos 3 aos 3), no luto (Mãe e filha) ou na luta (Mater dolorosa), seja na relação de mãe e filha criada no tempo e à distância (2704km), na amizade entre mulheres (A falta que me faz) ou no exercício da responsabilidade ética e afetiva (Campo Grande), cada uma das obras é um convite para refletir sobre maternidade, em suas muitas formas e (im)possibilidades.
veja aqui a programação completa
Lançamentos:
Em 10/05:
Nossos espíritos seguem chegando – Nhe’ẽ kuery jogueru teri (Ariel Ortega, Bruno Huyer, 2021, 15 min)
Tudo que importa (Coraci Ruiz, 2024)
Em 17/05
Olmo e Gaivota (Petra Costa, Lea Glob, 2014)
O mar também é seu (Michelle Coelho, 2022, 20´)
Em catálogo:
Mater dolorosa (Daniel Caetano, Tamur Aimara, 2014, 12min)
Dos 3 aos 3 (Pablo Lobato, 2023, 70min)
Mãe e filha (Petrus Cariry, 2011, 80min)
Campo Grande (Sandra Kogut, 2015, 108min)