prêmio Embaúba Play – FBCU
A programação apresenta três curta-metragens premiados pela equipe de coordenação e curadoria da Embaúba Play na edição deste ano do Festival Brasileiro de Cinema Universitário: o grande vencedor, As Placas São Invisíveis (Gabrielle Ferreira, 2024), e os que receberam menção honrosa, Urubu Aterrado (Weslley Oliveira Pinto, 2023) e Madrugada (Gianluca Cozza e Leonardo da Rosa, 2022). A partir de três regiões distintas do Brasil – entre São Paulo, Fortaleza e Rio Grande do Sul – lançam olhares sensíveis para experiências políticas coletivas. Cada um dos curtas propõe uma abordagem cinematográfica implicada em seus respectivos contextos: o movimento negro e a luta estudantil na Universidade de São Paulo, o trabalho noturno no porto industrial de Rio Grande e a especulação imobiliária na cidade de Fortaleza. A circulação destes trabalhos realizados dentro de trajetórias universitárias proporciona vistas à cinemas inventivos, expressando-se entre eles uma atenção aguçada e um olhar de denúncia para processos políticos e econômicos velozes que os cercam.
Em As Placas São Invisíveis, acompanhamos a intensificação da luta do movimento negro estudantil dentro da Universidade de São Paulo nos últimos anos. O filme, finalizado em 2024, começou a ser realizado em 2015 – assim, constrói um retrato profundo das discussões e vivências políticas que se desdobram nesse período. Por meio de imagens da luta estudantil de 2015 e de entrevistas com cinco estudantes negras da USP, a obra denuncia as dificuldades e barreiras impostas pelo racismo institucional – tanto visível quanto invisível – que afeta e determina profundamente a trajetória acadêmica do corpo discente, evidenciando como impõe desafios à formação universitária de maneira decisiva. O filme se posiciona e se faz em meio a processos políticos, optando por um discurso direto e incisivo que traz à tona a palavra de luta e constrói um entendimento amplo da situação das universidades públicas brasileiras.
Percorrendo os cenários industriais – a nível visual e sonoro – da noite do porto industrial do Rio Grande, Madrugada registra um grupo de homens arriscando-se para pegar sacos de soja de trens de carga em pleno movimento. O curta-metragem expõe, por força de suas atmosferas sombrias, o caráter de risco e vulnerabilidade deste trabalho. Apesar da luminosidade visual presente nas paisagens, as luzes azuis de seus capacetes por vezes escondem suas faces, assim como diante da luz alaranjada portuária os corpos viram silhuetas pequenas e irreconhecíveis. Já em Urubu Aterrado, a relação geracional entre mãe e filho faz refletir, de maneira sensível, sobre a especulação imobiliária, o racismo ambiental e a luta por moradia na cidade de Fortaleza. Eles retornam à praia de Iracema, onde foram despejados anos antes, revisitando um tempo-espaço que já habitaram em contraposição à atualidade do aterramento da favela do Urubu. Nesse sentido, o filme se destaca por transitar entre o pessoal e o político. Seu ritmo delicado cria o espaço necessário para que um trânsito de memórias aconteça, principalmente em relação à mãe, estabelecendo uma escuta atenta com suas experiências e o que elas guardam de outro tempo dessa cidade.